Não lembro mais o que fiz imediatamente depois disso. Depois de seis anos de vida procurando emprego, minha memória já aprendeu a não guardar esse "setor" da vida. Em 2009, fiz um estágio em uma grande firma, tive um crachá com meu nome que ficava comportadamente pendurado no meu pescoço durante minhas quatro horas de trabalho. Me sentia importante e privilegiada por fazer parte daquele meio, com pessoas tão respeitáveis, que tinham diplomas de faculdade e anos de experiência com planilhas e cartão de ponto. Claro que aos 17 anos é muito fácil ver qualquer coisa com o maior positivismo que jamais voltarei a ter.
Depois disso passei períodos de economia e minimalismo forçados, e o próximo emprego de que me lembro foi algo muito informal em um micro escritório. E a próxima, uma das minhas favoritas, foi como operadora de caixa em uma livraria de shopping. "Boa tarde". "Já tem o cartão da loja?". "Não quer fazer, só leva um minuto". "Débito ou crédito"? Pegar nos cartões Amex de gente classe-média-filha-da-puta-de-shopping me fez ver o mundo dos empregos com outros olhos. Isso em 2011, dois anos depois de ter admirado analistas e gerentes com seus crachás saindo para o almoço.
E quase fiz parte do time dos ex-operadores de telemarketing. Fui recrutada em uma sala da Atento junto de mais umas 50 pessoas, algumas que mal sabiam fazer uma redação sobre si mesmas, e essa quase-experiência de trabalho me custaria mais tarde 25 reais de taxas para encerrar a conta salário nunca usada no Bradesco. Por algum motivo, Deus me salvou da experiência do telemarketing pela qual muitos jovens da minha idade tiveram de passar. Talvez porque algo muito ruim poderia ter acontecido. Nunca vou saber, já que estou prestes a ter meu próprio diploma, o que me levará ao crachá de firma, ao cartão de ponto, aos almoços por quilo. A ser uma profissional respeitável que frequenta shopping centers e compra livros do Paulo Coelho com seu cartão Amex.